A Nova Face da Educação

A Nova Face da Educação
Por muitos caminhos diferentes e de múltiplos modos cheguei eu à minha verdade; não por uma única escada subi até a altura onde meus olhos percorrem o mundo. E nunca gostei de perguntar por caminhos, - isso, ao meu ver, sempre repugna! Preferiria perguntar e submeter à prova os próprios caminhos. Um ensaiar e perguntar foi todo o meu caminhar – e, na verdade, também tem-se de aprender a responder a tal pergunta! Este é o meu gosto, do qual já não me envergonho nem escondo. “Este – é meu caminho, - onde está o vosso?”, assim respondia eu aos que me perguntaram “pelo caminho”. O caminho, na verdade, não existe! Zaratustra

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quem usa computador não precisa de borracha

Todo texto é uma reescrita. (Nóbrega, 1997)
Outro dia, recebi uma amiga em casa, que me pediu uma borracha emprestada. Uma simples borracha. Foi muito estranho, mas eu procurei pela casa inteira e nada de encontrar esse instrumento tão convencional. Abri gavetas, armários, bolsas e bolsinhas, e nada. Não a encontrei; não houve jeito. Mas, como isso pode ter acontecido?
Muito natural. Há aproximadamente seis anos, só edito meus textos, do início ao fim, no computador. Lápis são usados para escrever bilhetes, pré-rascunhos ou outros textos pouco relevantes que podem conter rasuras. Sendo assim, para que serve a borracha? Em meio a várias mudanças, ela deve ter se perdido ou foi emprestada, esquecida, mas o fato é que não fez falta nenhuma, até minha amiga pedi-la emprestada.
E será que esse fato isolado, aparentemente pouco relevante, tem alguma relação com o desenvolvimento da produção escrita dos alunos? Tem, sim! Pesquisas recentes1 comprovam que, ao usar o computador para editar seus textos, os estudantes produzem de forma mais criativa e correta, além de considerarem a tarefa de escrever divertida e desafiadora.
E também não é para menos. Quem de nós — criados na época do lápis e borracha ou caneta e "liquid paper" (ou "branquinho") — não se lembra de como era terrível escrever um texto sem rasuras? Ou escrevíamos a lápis e o papel ficava gasto de tanto apagar ou não errávamos; ou desistíamos de corrigir o erro ou reescrevíamos os textos inteiros várias vezes. Escrever em conjunto, muitas vezes, era tarefa de "dá aqui que eu escrevo!" — um escrevia e o outro olhava. Para alterar alguma parte do texto ou inserir um comentário, era necessário escrever tudo novamente. E era melhor evitar tal constrangimento para o grupo. Bonitos, bonitos mesmo, só ficavam os trabalhos daquelas meninas que bordavam "florzinhas" na margem do papel, que tinham uma caligrafia linda e uma paciência tão invejável quanto irritante de passar tudo a limpo "mil" vezes. E menino que era menino não ficava "fazendo florzinha".
Além disso, quando consultávamos diferentes referências para produzir nossos próprios textos (se é que fazíamos isso com frequência), tínhamos de copiá-las à mão. E, depois, como fazer para "escrever com as próprias palavras"? Ah, tínhamos de ir apagando e escrevendo de novo, ou deixávamos assim mesmo; talvez o professor não percebesse.
Fosse essa uma postura certa ou errada dos alunos ou essas atividades bem ou mal orientadas pelo professor, o certo é que, no papel, a avaliação da habilidade de produção escrita é mesclada com a da caligrafia. Além disso, como a edição desses textos é mais difícil, frequentemente os trabalhos acabam sendo lidos como um produto final sobre o qual se apontam os erros, e o estudante fica sem saber o que fazer com tantas marcas sobre seu texto. Muitos nem lêem a correção do professor. Ou, se é necessário passar as correções a limpo, copiam sem refletir muito.
Em contrapartida, ao se escrever textos no computador, a situação de produção muda completamente, acarretando conseqüências para o produto final. Individualmente, a pessoa pode escrever e reescrever seus textos quantas vezes quiser sem amarrotar o papel, sem ter de escrever tudo de novo e sem medo de errar, pois o erro é passageiro, não deixa marcas e é fácil de ser corrigido. Os corretores ortográficos podem até deixar os autores mais preguiçosos para aprender ortografia, mas ajudam muito a elaborar um trabalho final correto. E, de uma maneira ou de outra, de tanto receber alertas de corretores ortográficos, pode até ser que aprendam como escrever as palavras.2
Além disso, fica mais fácil ir planejando e escrevendo o texto. Ele não precisa começar com a estrutura da versão final. Parágrafos inteiros podem ser movidos, pois é possível escrever sobre o rascunho e inserir comentários e exemplos em qualquer lugar. Ou seja, ao se produzir um texto eletrônico, a maior preocupação do autor é com o conteúdo que está escrevendo, que é sempre flexível. Não há dúvidas de que tal processo de escrita dá mais espaço para a criatividade se desenvolver. Mesmo as pessoas que preferem fazer alguns rascunhos iniciais à mão, ao saber que seu texto final será eletrônico, ficam mais à vontade para ir mudando tudo no caminho, pois, no final, poderão editar tudo novamente, se assim o desejarem.
Em nível coletivo, um colega não vai estar sendo chato ao sugerir uma alteração no texto. É só sugerir e escrever. Ninguém vai ter de passar a limpo e não é necessário haver um único escriba com boa caligrafia no grupo. Todos podem editá-lo sem interferir na qualidade visual do produto final. O texto também pode ir aumentando e melhorando ao longo do tempo e até a distância, e cada um vai acrescentando sua contribuição.
Quanto à realização de pesquisas e à produção de textos baseados em referências, escrever no computador e usar referências digitais ainda tem a vantagem de permitir copiar e colar as partes que interessam. Assim, fica claro que o que foi cópia não deu trabalho nenhum para fazer, e que o autor do novo texto tem de imprimir sua voz ali, misturar referências, colocar suas palavras no meio do texto, explicar, dar exemplos e incluir imagens, tabelas e gráficos.
Com relação ao professor, ele também não precisa ter pena de pedir a seus alunos que reescrevam seus textos várias vezes, nem ler o trabalho dos estudantes diversas vezes na íntegra para propor revisões. Ao acompanhar o que os estudantes estão escrevendo no monitor, pode ir lendo fragmentos dos textos e pedir que editem e reeditem diferentes partes do trabalho. Essa solicitação da reescrita não tem qualquer conotação de punição pelos erros. O professor deixa de ser corretor e juiz para ser coautor e parceiro. Além disso, tem elementos para observar o processo de escrita dos estudantes e não só o produto final imperfeito.3 E, ainda, acaba tendo o prazer de ver trabalhos longos e de alta qualidade feitos por seus alunos.
Vale ressaltar que o computador sozinho não faz com que as pessoas escrevam melhor. Além disso, estudos indicam que o simples uso de ferramentas desse equipamento, como o editor de textos, leva os estudantes a escreverem textos mais longos e facilita o trabalho em parceria. No entanto, ele não garante que os alunos empreguem boas estratégias de reescrita. Para aproveitar ao máximo os recursos de edição que somente um computador proporciona, é necessário que um professor oriente-os a respeito do que seja uma boa edição de texto.
Referências:
DAIUTE, C. Writing and Communication Technologies. In: INDRISANO, R.; SQUIRE, J. R. (Ed.) Perspectives on Writing: Research, Theory and Practice. The International Reading Association, 2000.
JOLY, M. C. R. A. Avaliando o uso educacional de recursos tecnológicos em leitura e escrita. In: JOLY, M. C. R. A. (Org.) A tecnologia no ensino: implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

Fonte: http://www.educacional.com.br/articulistas/betina_bd.asp?codtexto=622

2 comentários:

  1. O texto vem nos acrescentar que com o uso da informática obtemos mais vantagens do que desvantagens. A falta de um simples objeto, no caso, a borracha nos faz refletir com mais amplitude a cerca do mundo informatizado que estamos inseridos, o qual devemos nos adequar.

    Andrea, Rosivânia e Tisiane.

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  2. A simplicidade que o texto foi escrito, nos permite refletir sobre dois pontos importantíssimos, pontos esses que regularmente são esquecidos por nós. Um texto eletrônico e um manuscrito, cada um estabelecendo-nos benefícios e malefícios. Com a ''era tecnológica'' o lápis e a borracha estão sendo substituídos por o
    computador gradativamente, e esse é um processo normal no mundo mutável em que vivemos. Devemos aceitar essa mudança,
    todavia sem esquecer-se dos antigos recursos que nos ajudou por tanto tempo.

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